“Antes
de você chegar, meu mundo já estava completo.
Eu
vivia meus dias sem espera:
Consumo
diário de acúmulos;
Eu
vivia meus dias sem a ânsia do porvir:
Cultivo
contínuo de reservas.
Passava
como passam as horas;
Seguia
como segue o tempo.
Antes
de você chegar, eu já havia esgotado minha caixa de eventos,
Entornado
minha garrafa de mistérios,
Quebrado
o relicário de projetos.
(Triste
carne que lera mesmo os livros que não leu)
Traçava
minha história com linhas desinteressadas
Tecia
meu futuro com fios puídos de um passado roto.
Antes
de você chegar, adubei desgraça,
Semeei
desordem e pintei com cores melancólicas
As
ervas que fertilizavam os meus afetos.
Chorei
lágrimas de indiferença para ternura,
Travei
pacto de fidelidade com a angústia.
Antes
de você chegar, cumpriu-se a guerra, guardou-se a glória.
Contou-se
o cobre tanto quanto a miséria
E,
no ganhar e perde dessa batalha, venceu o jogo;
Pois
que, pela vitória, premiou-se o jogador.
Com
o direito de não mais jogar.
Antes
de você chegar, meu mundo já estava completo.
(a
falta só se dá quando se quer o que não tem).
Antes
de você chegar,
os
homens passavam,
As
crianças seguiam,
A
roda girava como gira e sempre irá girar.
Mas...
Antes
de você chegar eu não sabia,
Nem
minha caixa de eventos,
Nem
minha garrafa de mistérios,
Nem
meu relicário de projetos
Nem
mesmo os livros que não li
(e
como saberíamos?)
Que
era você quem eu estava a esperar.”
(Mário
Tavares)
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